Era para ser mais um menino da roça, daqueles que seguem os pés descalços do pai. Um dia vai carpir, no outro plantar. Daqueles tão pobres que chegam a dividir um ovo. Existe meio ovo? Em alguns lugares do nordeste brasileiro, existe sim. E foi justamente neste ponto da vida, entre a pobreza e o sertão, que o jovem de 15 anos cortou a perna e foi salvo pelo pai, que fez um torniquete e o levou para casa sobre um jumento. Na viagem, uma promessa: “Meu filho, Nossa Senhora abençoe e nunca mais te levo prá roça”.

A reza era forte e a palavra do pai era mais ainda. Vilmar Ferreira, hoje presidente do Grupo Aço Cearense, cresceu sabendo que seu destino seria outro. Ainda jovem, decidiu vender uma vaca e comprou outra menor. Com a diferença comprou também galinhas, porco, carneiro. Matava, fazia em pedacinhos e saia vendendo em cima do jumento. Na volta, ia comprando outros e assim nasceu um novo empreendedor.

De carona para o futuro

Com 18 anos, Vilmar foi para Fortaleza de carona. O primeiro emprego rendia quase nada, mas ele fazia tudo com rapidez e entusiasmo. Aprendeu onde comprar; como vender, sempre soube. Juntou novamente as economias e abriu uma pequena mercearia de bairro. Logo trouxe a família inteira – nada menos que treze irmãos. Mas, com tantos encargos, a vida se complicou e Vilmar pensou em novos negócios lucrativos. Deixou o mercado para a família, tirou uma pequena parte dos recursos e abriu uma distribuidora de bebidas. O pai, religioso, de novo profetizou: “Bebida não dá felicidade a um homem.”

Em busca de um novo ramo

O conselho do pai virou ordem e Vilmar sonhou grande: resolveu investir em aço. As barreiras neste mercado eram grandes, quase intransponíveis, mas não para um nordestino teimoso, que chegou a chorar para ser atendido na Gerdau. Com sua persistência e talento de vendedor, conquistou a confiança da empresa e chegou a ser o seu maior cliente como distribuidor. Até que um dia cortaram as entregas. São esses os momentos de virada na vida de um empresário.

Os fracos desistem, os fortes lutam.

Sem outra saída, Vilmar decidiu importar aço, uma atitude que era considerada uma loucura na época. Porém a decisão se mostrou viável e acertada. Logo Vilmar abriu uma pequena fábrica de aços, ampliou os negócios e foi crescendo, crescendo, crescendo até formar o Grupo Aço Cearense. Com 35 anos no mercado siderúrgico, o Grupo Aço Cearense passou de pequeno distribuidor a importador, grande distribuidor, processador e produtor de aço.

Hoje, o GAC emprega mais de 4 mil funcionários, é líder regional do setor, é o maior distribuidor independente de aço e seus derivados no Brasil e opera com destaque no mercado da América Latina.

De zebra a diretora, Aline inverteu a sucessão

A menina de oito anos saiu do quarto e escutou o pai falando a um amigo: “A Aline não era bem o que eu queria, logo me disseram que era mulher…”.

Num primeiro momento veio a dor, mas a herdeira de um homem guerreiro não ficaria resignada. Ela resolveu conquistar o pai – e parece que conseguiu.

Ao contar que se sentia uma verdadeira zebra, aquela que (por ser mulher) tem tudo para dar errado, Aline Ferreira também demonstra que superou o trauma da infância. Hoje, mãe de dois filhos, é diretora do grupo criado pelo pai, com a crença de que a governança corporativa permite ultrapassar gerações e perpetuar o negócio.

“Minha missão é dar continuidade, seguir esse caminho em que as pessoa se apaixonem pelo que fazem”.

Para a sócia executiva do Grupo Aço Cearense, são três os pontos principais para implementar a boa governança: manter a visão do acionista, envolver os colaboradores na cultura da empresa e investir em processos e pessoas.

Além de participar ativamente na direção da empresa familiar, Aline também foi a primeira mulher a ser Embaixadora Endeavor no Brasil.

Para saber mais sobre essa dupla de nordestinos vencedores, que honram sua origem de luta e coragem, assista ao Day1 de Vilmar e Aline Ferreira.